1º Festival de Observação de Aves / Sagres – Algarve é um local de eleição

0

Durante 3 dias, a vila de Sagres foi o centro das atenções no que diz respeito à observação de aves. A Câmara de Vila do Bispo com o apoio das associações Almargem e SPEA organizaram um evento que aglutinou diferentes áreas do saber em torno de Sagres e da observação de aves.

Entre palestras, saídas de campo, passeios interpretativos e escolhas de binóculos a Vila de Sagres teve, entre 1 e 3 de Outubro um movimento de pessoas um pouco diferente do usual.

Este tipo de iniciativa tem como virtude não só transmitir conhecimento mas também estabelecer trocas de experiência entre os participantes. Uma outra faceta deste festival é  demonstrar  às autoridades locais, como as questões da Natureza podem potenciar o turismo da região captando gente que irá gastar dinheiro na restauração e hotelaria. O conceito de Turismo de Natureza no qual se incluem a observação de aves e cetáceos ou o geoturismo são muito mais duradouros, não passam de moda, apresentam produtos que poderão ser únicos no mundo e atraem um visitante mais culto e com maior poder de compra.

Pelo que tive oportunidade de ver, o Algarve é um local com um grande potencial em diferentes áreas: a observação de aves é já uma realidade, a observação de cetáceos dá os primeiros passos com resultados surpreendentes ao nível dos avistamentos e do número  de espécies e, por fim, o geoturismo com situações únicas a nível mundial. Foi também interessante verificar o bom relacionamento entre a Câmara de Vila do Bispo e as associações SPEA e Almargem que permitiu uma abordagem aos temas científicos e da preservação de uma forma séria mas informal, cientes que o futuro está na qualificação dos espaços e prevenção de  atentados ambientais.

No final da nossa passagem por Sagres conversámos com o João Ministro, um dos responsáveis  da associação Almargem.

 

Passear (P) – Que balanço faz deste Festival de Observação de Aves em Sagres?

João Ministro (JM) – O balanço é bastante positivo. Superou as expectativas de todos nós e posso já adiantar-lhe que, face aos bons resultados, para o ano o evento irá repetir-se. Tivemos mais de 600 participantes, entre crianças de escolas locais, observadores de aves de várias partes do país e estrangeiro, estudantes, curiosos, fotógrafos, etc. e a opinião geral é bastante boa em relação ao interesse e organização do festival.

Á parte disto, penso que conseguimos algo muito interessante junto da população local: passámos uma mensagem de sensibilização em torno da importância ambiental daquela região e, junto dos agentes empresariais em particular, conseguimos mostrar, que é possível atrair pessoas e aumentar a procura de serviços de alojamento e restauração com base na motivação “Natureza”.

P – Na sua perspectiva qual é o potencial do Birdwatching no desenvolvimento do turismo em Portugal e no Algarve, em particular?

JM – O mercado existente em torno do Birdwatching está documentado em diversos trabalhos e estudos. Sabemos que em países como Inglaterra, a Alemanha ou os Estados Unidos, existe um grande número de praticantes desta actividade, atingindo a ordem dos milhões. Portugal é, juntamente com Espanha, o país onde existe maior diversidade de espécies de aves, algumas das quais bastante raras no contexto europeu, o que por si só atribui a este território um grande potencial para o desenvolvimento desta modalidade turística. Com estes dois factores – o do mercado e da riqueza do território – penso que existem condições muito boas para potenciar esta actividade no país. O Algarve surge como uma das regiões mais importante de Portugal – senão a melhor – para esta actividade. Tem diversos locais com muito interesse para a observação de aves, pela sua dimensão e grande diversidade de paisagens é possível desenvolver e conceber diversos programas turísticos, incluindo visitas ao Alentejo.  Além disso, sendo um destino turístico de excelência, com numerosas ligações aéreas, um vasto conjunto de serviços de alojamento e transporte, as condições existentes para a implementação deste segmento turísticos são bastante boas. Porém, há que recordar que estamos a promover um nicho especializado, que requer guias experientes e até serviços especiais e que nunca será um segmento de massas. Deve ser encarado como um complemento, sobretudo nos períodos de baixa procura turística, ou seja, no Outono, Inverno e Primavera.

Há um longo caminho a percorrer no sentido de tornar Portugal e o Algarve em particular, num destino reconhecido de Turismo Ornitológico. Está-se a percorrer esse caminho e no final penso que esta actividade pode ajudar bastante a região a combater a sazonalidade turística. Mas ainda faltam alcançar várias etapas na sua implementação, como seja uma maior disponibilidade de empresas especializadas, preparação dos locais para acolher visitantes, sinalização, informação, etc.

P – No Algarve, Sagres é o principal local para a observação de aves?

JM – Não exactamente. Depende do tipo de aves que procuramos. Castro Marim e Ria Formosa estão entre as melhores zonas do país para observar aves aquáticas, algumas delas bastante raras, como seja a Gaivota de Audouin, o Garçote, o Caimão, etc. A serra do Caldeirão e de Monchique, pelas suas características, são muito interessantes para a observação de aves florestais, incluindo a ameaçada Águia de Bonelli. A lagoa dos Salgados, pela reduzida dimensão que tem e o grande número de espécies que acolhe, é outro hotpost para o Birdwatching no Algarve. Sagres, tem características únicas e tem espécies que só ali se podem ver no território algarvio. Nas migrações, adquire especial importância, pois não há em Portugal um local onde se observem tantas aves de rapina.

P – O trabalho desenvolvido com as autarquias é assente num interesse genuíno destas nas questões relacionadas com a Natureza e sua preservação? Ou é apenas uma questão de moda?

JM – Penso que ambos. Há casos genuínos de interesse e sensibilidade pela actividade em questão – a observação de aves e da natureza em geral – e há casos em que se procura sobretudo marcar uma agenda política e uma imagem mais “verde”. Há ainda um outro aspecto, complementar, que se prende com questões financeiras e prioridades. As dificuldades financeiras a que muitas câmaras estão sujeitas, obrigam à definição de prioridades e, compreensivelmente, existem outras mais urgentes e importantes. Ainda iremos levar algum tempo até temos implementado na região um produto integrado de Birdwatching, que contemple toda a fileira, desde os espaços naturais, aos agentes, promoção, etc.

 

Passear agradece

Na realização desta reportagem tivemos o apoio da Almargem (http://www.almargem.org/) e do Hotel Dom Tenório (http://www.dontenorioaparthotel.web.pt/).

Partilhe

Acerca do Autor

Deixe Resposta