Visita cultural a Caldas da Rainha

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Domingo 18 de Fevereiro de 2018

Programa:
8h30m: Saída de Lisboa (gare do Oriente) em autocarro para Caldas da rainha. (Lisboa – Caldas da Rainha, distância: 100km; tempo: 01h30m)
10h: Visita ao Museu Termal e das Caldas: Paço Real, Hospital Termal e Igreja de Nossa Senhora do Pópulo*.

11h: Visita ao Museu Malhoa**

12h: Visita ao Museu de Cerâmica***

13h: Almoço de grupo em restaurante

15h: Visita ao Museu Barata Feyo, Atelier Museu António Duarte, Atelier Museu João Fragoso e Museu Leopoldo de Almeida****

18h30m: Regresso a Lisboa.

19h30m: Chegada a Lisboa.
Este passeio será orientado pelo Prof. Doutor Augusto Moutinho Borges*****

Preço do programa por pessoa: 65 €
O preço inclui as atividades e visitas referidas no programa, transporte em autocarro e um almoço.
A actividade está coberta por seguro.
Para inscrição enviar mail para caminhoscomcarisma@gmail.com

No Verão de 1484, quando em Lisboa alastrava “a doença contagiosa”, a Rainha D. Leonor foi para Óbidos, com o séquito de damas, cavaleiros, págens, moças de câmara e demais acompanhamento que competia à comitiva. No dia 28 de Agosto daquele ano, seguiu para a Batalha ao encontro de D. João II, onde ambos assistiram às exéquias por alma de D. Afonso. Pelo caminho a Rainha terá visto o triste espectáculo dos pobres andrajosos e outros doentes de frialdades a banharem-se nas Caldas, em condições tão desumanas que deveras a sensibilizaram. Logo ali terá formulado o voto de que se o Senhor Deus lhe desse vida, “os pobres de Jesus Cristo, Seu filho, terão melhor comodidade em suas curas”. D. Leonor mandou logo levantar ali um grande padrão de alvenaria, provavelmente para lhe não esquecer o lugar. Logo no ano seguinte iniciou a construção de um Hospital para que todos ali se pudessem tratar com algum conforto. A Fundação das Caldas da Rainha ficou a dever-se a um acto profundamente cultural de uma Rainha – Rainha D. Leonor que escolheu esta região para palco de desenvolvimento dos seus projectos, protegendo as artes e os artistas criando uma auréola que atravessou os séculos e que se mantém intacta nos dias de hoje. Em redor do Real Hospital das Caldas foi crescendo a povoação. A nova povoação passou a designar-se por vila, possivelmente a partir de 1488, e foi concelho em 1511, por outorga e demarcação do Rei D. Manuel a pedido de D. Leonor. Daí em diante verificou-se um rápido crescimento populacional, tornando-se Caldas da Rainha uma concorrida Estância Termal que atingiu o apogeu nos finais do século XIX e primeiro quartel do século XX. Caldas da Rainha, pela sua importância e também pela sua excelente situação geográfica, é local de passagem obrigatória nos circuitos turísticos e culturais. Foi elevada a cidade por decreto de 11 de Agosto de 1927.

*A cidade de Caldas da Rainha nasceu junto aos afloramentos de águas termais, de tipo sulfurosas. D. Leonor, criadora das Misericórdias em Portugal, foi quem decidiu fundar o Hospital termal, com objetivos assistenciais caritativos, mas tendo em vista também a necessidade de afirmação do poder real na área que vinha a ser cobiçada pelos religiosos do Mosteiro de Alcobaça. Construído nos anos de 1480, no local onde havia ruínas de edifícios romanos, visava o tratamento de doenças de pele e doenças epidêmicas, que provocavam altos índices de mortalidade.
A construção foi concluída em 1508, sendo o primeiro hospital termal a dispor de consulta médica obrigatória, enfermeiros e farmacêuticos, sendo regido administrativamente pelo Compromisso de 1512, ditado pela Rainha (Figura 01). Em termos espaciais tinha forma simples e linear, obedecendo a programa definido por Mestre António, físico conceituado, pela própria rainha, por Contreras e pelo Cardeal de Alpedrinha. Espacialmente configurava um corpo humano, contendo no nível inferior as piscinas, separadas para homens e mulheres, no segundo nível o corpo principal cuja cabeça era composta pela igreja de Nossa Senhora do Pópulo, numa visão ligada ao humanismo renascentista (Figura 02). Contíguas à igreja, situavam-se as duas enfermarias, dos homens a Sul e das mulheres a Norte, estas ligadas ao coro baixo da igreja do hospital, separadas apenas por grades de ferro, permitindo aos doentes receber a comunhão na própria cama, estando também perto dos banhos. No mesmo nível, no lado oposto, situavam-se copa, botica e outros serviços. Esta descrição foi feita pelo Provedor do Hospital até o ano de 1656. Em cada enfermaria existia um oratório com imagem do senhor crucificado, um painel do santo patrono e uma imagem de N. Srª do Pópulo. O padrão arquitetônico ficou condicionado a localização das termas, suas nascentes e sua ação nos materiais construtivos.
Já no século XVIII, destacam-se as obras promovidas por D. João V, que alteram a estrutura do edifício, reforçando as fundações, modificando também a estética e conferindo unidade espacial ao eliminar os anexos implantados ao longo dos 250 anos de existência do hospital. Em 1719 é feita a reedificação do Paço real e em 1721 iniciam-se vistorias que atestam a ameaça de ruína da fachada do Hospital devido a vazamento de águas, bem como o arruinamento das varandas que rodeavam as fachadas poente e sul, a queda de um camarote, resultando na necessidade de também reformar os telhados e os revestimentos dos banhos termais. Assim, a ação mecenática de D. João V impede o total colapso do edifício do hospital, designando como responsáveis pelas obras, em 1742, Manuel da Maia e Eugénio dos Santos.
Os serviços foram regidos pelo Tribunal da Mesa de Consciência e Ordens (MCO) entre 1747 e 1750, quando a Vila das Caldas torna-se um grande estaleiro, que estimulou sua economia. Supõe-se que a nova planta do hospital teria sido delineada por Pedro Ludovice e a fachada foi comprovadamente traçada por Eugénio dos Santos. Salienta-se a encomenda do medalhão retabular colocado no tímpano da fachada principal que representa o mistério da Anunciação, prendendo-se ao programa iconográfico estabelecido à fundação do hospital (Figura 03). Fica a ele também atribuída a reformulação do retábulo da capela-mor da igreja, antes em madeira, para o atual em mármore, mantendo as mesmas linhas clássicas do anterior já deteriorado.
No século XIX o Hospital atinge sua plenitude, devido à preferência da família real e a crescente afirmação da burguesia que adotava costumes da Europa industrializada, que privilegiava os programas de convívio social. Em 1853 o Hospital sofre grave incêndio, com destruição de ornatos da igreja, sendo a seguir realizadas obras por responsabilidade do Arquiteto Lucas Joze dos Santos Pereira, autor das plantas de remodelação dos banhos. Em 1888, D. Luis I nomeia o Arquiteto Rodrigo Berquó como diretor do Hospital Real das Caldas. Este foi responsável por sua ampliação, sendo demolida a capela de N. Srª do Carmo e atrofiado o corpo da igreja do Pópulo. A referida igreja foi classificada como monumento nacional em 1910, sendo dotada de Zona de Proteção em 1948, mas deixando de contemplar a classificação da estrutura termal.
O Museu do Hospital e das Caldas foi inaugurado em 1999 e ocupa o prédio do antigo Palácio Real ou Casa Real. O prédio, o qual funcionou também como hospital, em 1861 sofreu obras a cargo do engenheiro Pedro José Pezerat passando a alojamento dos diretores da instituição e da família real. Hoje, o espaço museográfico reúne peças importantes que contam a história da Instituição através de obras de arte que incluem pintura, esculturas, fragmentos arquitetónicos, mobiliário, documentos, e ambientação que recriam espaços hospitalares no século XIX.

** Visita ao Museu Malhoa.
Instalado no Parque D. Carlos I, pulmão verde da cidade das Caldas da Rainha e com a particularidade de ser o primeiro edifício construído no país para fins museológicos é detentor de um significado único na história da cultura portuguesa e pioneiro na museologia nacional. O Museu José Malhoa mostra o maior núcleo reunido de obras do seu patrono e uma importante coleção de pintura e de escultura dos séculos XIX e XX, revelando-se a quem o visita como o museu do naturalismo português. Completam as colecções uma Secção de Cerâmica das Caldas – articulada em torno da importância de que se revestiu a atuação de Rafael Bordalo Pinheiro, também ele membro do “Grupo do Leão”, para a faiança local e do conjunto único das 60 esculturas de terracota da “Paixão de Cristo” -, o núcleo de Escultura ao Ar Livre e uma Biblioteca de Arte com um acervo de mais de 5.000 espécies.

***Visita ao Museu de Cerâmica.
Instalado num palacete romântico, rodeado de jardins e lagos, o Museu é constituído fundamentalmente por uma importante colecção de cerâmica organizada de forma temática abrangendo o período do séc. XVI a XX e compreendo os seguintes núcleos de cerâmica: contemporânea, representativa dos principais centros, estrangeira e caldense. Neste núcleo estão representados os principais autores e unidades de produção do séc. XIX e XX, possuindo ainda o Museu um importante sector de azulejaria.

****O Museu Barata Feyo (1899-1990), inaugurado em 2004 e projectado por um dos seus filhos, Arquitecto António Barata Feyo, acolhe um importante acervo de obras deste escultor da escola do Porto. Escultor, ensaísta e pedagogo, foi como estatuário que mais se notabilizou. Podemos admirar os aspectos mais significativos da sua obra, de onde se destacam três grupos temáticos principais: o retrato, a escultura oficial e escultura religiosa.
O Atelier-Museu António Duarte (1912-1998) foi inaugurado em 1985 após doação da colecção de arte do Mestre escultor à sua cidade natal, Caldas da Rainha. A ideia inicial de dotar o edifício com um atelier, visava dar condições para que paralelamente à missão museológica, autores convidados pudessem aí desenvolver projectos artísticos. Podemos aqui encontrar, distribuída por várias salas, grande parte da sua produção escultórica, desde escultura pública (sobretudo esbocetos, modelos e maquetas) que constituem a expressão mais conhecida da sua obra, a um registo mais intimista e pessoal. Um interessante núcleo de Arte Sacra pode também ser apreciado.
O Museu Leopoldo de Almeida, Caldas da Rainha, encontra-se inserido dentro do espaço que é o Centro de Artes da cidade. São 80 as esculturas que formam a exposição inaugural. A todas estas peças juntam-se 50 desenhos, espólio doado pelos herdeiros do escultor Leopoldo de Almeida (1898-1975), entre os quais se inclui a artista Helena Almeida, que acrescenta um número de 285 esculturas 900 desenhos. Aproveita também para descobrir os restantes espaços que que fazem parte do Centro de Artes das Caldas da Rainha nomeadamente: Museu Barata Feyo, Atelier-Museu António Duarte, Atelier-Museu João Fragoso e Espaço Concas.

*****A visita é comentada por investigador especialista em Arquitetura Militar, Património, Arte e Azulejaria.
Augusto José Moutinho Borges, é Doutor em Ciências da Vida, na Especialidade em História das Ciências da Saúde, pela Universidade Nova de Lisboa (2008); Especialista em Turismo e Lazer – IPGuarda (2013), Mestre em Património e Turismo, pela Universidade do Minho – Braga (2004) e Licenciado em Ciências Históricas, pela Universidade Portucalense – Porto (1988).
É Investigador Integrado do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa – CLEPUL (2010-2017) e da Cátedra Infante Dom Henrique-UAberta (2015-2017). Professor Adjunto Convidado da Escola Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda (2011-2013). Desempenhou as funções de conservador de Museu Ordem Hospitaleira (2002-2011) e foi Técnico Superior da Câmara Municipal de Almeida (1992-2002), Professor Assistente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico da Guarda (1998-2002).
Académico da Academia Portuguesa da História (2013), é também Investigador Colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20 (2008); Investigador Colaborador do Instituto Europeu de Ciências da Cultura, da Universidade de Lisboa (2010); Membro Correspondente do Conselho Científico da Comissão Portuguesa de História Militar, Ministério da Defesa Nacional (2007) e Membro do Conselho Científico do Instituto Europeu de Ciências da Cultura, da Universidade de Lisboa (2012). Foi Membro da Direcção da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (2010-2013) e Membro da Direção da Secção de História da Medicina da Sociedade de Geografia de Lisboa (2008-2012).
Autor de quinze livros sobre História, História da Arte, Património, Turismo, Cultura e História das Ciências da Saúde, tem escritos 140 artigos e realizou 1100 conferências e 120 comunicações em Congressos e Colóquios, em Portugal e no estrangeiro, sobre História, Arte, Património, Cultura, Cultura e Ciências da Saúde.
Foram-lhe atribuídos os Prémios Imprensa Não diária 2002, pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal, o Prémio Defesa
Nacional 2007, pela Comissão Portuguesa de História Militar-Ministério da Defesa Nacional, o Prémio SOS Azulejo Investigação Científica 2010, pelo Museu da Polícia Judiciária, e o Prémio APOM Investigação 2012 (Menção Honrosa), pela Associação Portuguesa de Museologia.

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