LIFE Ilhas Barreira deixa legado duradouro na proteção da Ria Formosa

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Durante seis anos, o projeto LIFE Ilhas Barreira restaurou habitats, protegeu espécies e reforçou a resiliência ecológica de uma das zonas costeiras mais frágeis e importantes do país, as Ilhas Barreira da Ria Formosa, deixando bases sólidas para a sua conservação futura.

O projeto, financiado pelo Programa LIFE da União Europeia com início em 2019, foi determinante na recuperação da população de gaivota-de-audouin (Larus audouinii), espécie em declínio global, que encontrou nas Ilhas Barreira um refúgio de sucesso. Em 2019, havia cerca de 2 500 ninhos; em 2024, esse número ultrapassava os 7 000. Esta recuperação foi acompanhada por uma recente expansão natural da colónia da Ilha Deserta para a Ilha da Culatra, reduzindo desta forma os riscos associados a uma concentração populacional em apenas um único local.

Para proteger a colónia na Deserta, o LIFE Ilhas Barreira implementou medidas rigorosas de biossegurança. Em parceria com a Associação Animais de Rua, foram retirados todos os gatos selvagens da Ilha Deserta, reduzindo assim o risco de predação. Paralelamente, foram instaladas armadilhas para controlar os roedores e desenvolvido um plano de biossegurança.

No âmbito científico, o projeto atualizou o Plano de Ação Internacional para a gaivota-de-audouin, envolvendo especialistas de vários países. Foi também proposta a expansão da Zona de Proteção Especial (ZPE) da Ria Formosa, que prevê ampliar a área marinha da ZPE para mais de cinco vezes a sua dimensão atual, fundamental para garantir a proteção de aves marinhas ameaçadas.

A chilreta (Sternula albifrons) foi também uma espécie que beneficiou das medidas desenvolvidas pelo projeto. O facto de os seus ninhos serem no areal, faz com que seja uma espécie muito exposta à perturbação humana. A colocação de vedações e sinalização em redor das suas zonas de nidificação nas praias reduziu significativamente a perturbação.

No campo da recuperação de fauna selvagem, o LIFE Ilhas Barreira contribuiu para a modernização do Centro de Recuperação RIAS, dotando-o de novos equipamentos e competências dirigidos às aves marinhas. Entre 2019 e 2024, o centro tratou 7 562 aves marinhas, das quais 3 208 foram devolvidas à natureza. Foi também identificado o agente causador da “síndrome parético” – o botulismo – permitindo a criação de um protocolo terapêutico partilhado a nível internacional.

As dunas cinzentas, habitat crítico e frágil, também foram alvo de atenção. Através da limitação do acesso de gaivotas e da remoção de plantas invasoras em 1,6 hectares, por dezenas de técnicos e voluntários, o projeto iniciou a recuperação ecológica da Ilha Deserta. Técnicas inovadoras, como o uso de telas escuras para eliminação de chorão, mostraram-se eficazes e o mapeamento das plantas invasoras nas restantes ilhas inspiraram ações de remoção destas espécies nas ilhas de Tavira e Armona.

Na interface entre a conservação e as comunidades, o projeto desenvolveu soluções para reduzir capturas acidentais de aves por redes de pesca, promovendo boas práticas entre pescadores. Medidas simples, como o acondicionamento de descartes de peixe, evitando deitar borda fora durante as operações de pesca, revelaram impacto direto na segurança das aves. Também foram testadas formas de dissuasão em aterros e portos, com o objetivo limitar o acesso das gaivotas-de-patas-amarelas a fontes de alimentos.

O projeto teve ainda uma forte componente educativa e de sensibilização, com destaque para o programa escolar que alcançou 6807 alunos da região e materiais de apoio pedagógico hoje disponíveis para professores de todo o país.

“O LIFE Ilhas Barreira mostrou que a conservação é possível, eficaz e replicável. Agora, cabe às autoridades e à sociedade manter este compromisso vivo e atuar para garantir a proteção duradoura das Ilhas Barreira e da Ria Formosa”, sublinha Joana Andrade, coordenadora do Departamento de Conservação Marinha da SPEA e do projeto LIFE Ilhas Barreira.

A continuidade dos bons resultados dependerá da implementação da nova ZPE marinha e da colaboração contínua entre instituições, cientistas, pescadores e cidadãos. Os parceiros do projeto comprometem-se a implementar as ações incluídas no Plano de Conservação Pós-LIFE durante os próximos 5 anos, com recursos próprios e procurando outras fontes de financiamento.

Co-financiado pela União Europeia e com o apoio financeiro do Fundo Ambiental, o projeto teve início em 2019 e terminou no verão de 2025. Além da SPEA como entidade coordenadora, contou com mais cinco parceiros: Universidade do Algarve, Universidade de Coimbra, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens da Ria Formosa e a empresa Animaris, concessionária da área de restauração na Ilha da Barreta.

Fotografias: © Maria Ruiz/SPEA

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