Oleiros, aposta na valorização do Património natural e cultural

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A propósito da inauguração da Grande Rota do Muradal-Pangeia, nos próximos dias 28 e 29 de Março, conversámos com o vereador Paulo Urbano, responsável pelo pelouro do Turismo da Câmara Municipal de Oleiros.

O Vereador Paulo Urbano da C.M. de Oleiros.

Passear – Como nasce a ideia da Grande Rota 38?

Paulo Urbano – A Grande Rota do Muradal-Pangeia nasce naturalmente do trabalho que o município de Oleiros tem vindo a desenvolver nos últimos anos no âmbito da valorização do seu património natural e cultural. O concelho de Oleiros integra o Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, que por sua vez se inclui na Rede Global de Geoparques reconhecida pela UNESCO.

Neste território assinala-se os processos geológicos que deram origem à formação do supercontinente Pangeia, sendo que um dos locais mais ilustrativos para entender a evolução da paisagem através dos mecanismos de tectónica de placas é precisamente a Serra do Muradal, no concelho de Oleiros. Esta serra, até este projeto quase desconhecida, constitui um relevo do tipo Apalachiano, por ser constituído por uma rocha muito resistente à erosão – o quartzito – que se destaca como uma enorme muralha – daí o seu nome – da paisagem xistenta, atingindo mais de meio quilómetro de diferença de altitudes. Ora, este tipo de relevo estende-se nos Estados Unidos pelas Montanhas dos Apalaches onde, desde os finais dos anos 20 foi desenvolvido o Trilho Nacional Cénico dos Apalaches, numa extensão de 3 500km e percorrido anualmente por cerca de 4 milhões de pessoas.

Nos últimos anos, o Trilho dos Apalaches foi estendido para o Canada e daí para a Europa, num total de 12 000 km, unindo as montanhas que no passado geológico foram separadas pela abertura do Atlântico Norte. Estando a desenvolver-se este projeto para a constituição do maior percurso pedestre contínuo do Mundo tínhamos que participar com a perspetiva de reforçar relações históricas e comerciais com o mercado norte-americano, ao mesmo tempo que valorizamos o nosso património e aproximamos as comunidades existentes em torno da Serra do Muradal.

“… um percurso em trilhos de montanha e caminhos rurais numa extensão de 38 km…”

Passear – Como define a Grande Rota Muradal-Pangeia do ponto de vista de Natureza e Cultural?

Paulo Urbano – A Grande Rota do Muradal-Pangeia é um percurso pedestre que desafia os desportistas e naturalistas mais exigentes. Primeiro, porque oferece um percurso em trilhos de montanha e caminhos rurais numa extensão de 38 km que podem ser realizados em um, ou, mais calmamente e desfrutando, dois dias. Existe ainda um percurso assinalado para BTT que percorre a cumeada da serra e que pode ser realizado por qualquer pessoa. Para os mais aventureiros, o percurso conta ainda com uma vertiginosa Via Ferrata “Caminho sobre o Oceano Ordovícico”, uma das primeiras montadas em Portugal, e a escola de Escalada do Zebro, que promete numa das suas 15 vias, desafios e paisagens grandiosas ao iniciante e ao praticante exímio.

Para quem gosta de aprofundar o seu conhecimento sobre a Natureza e cultura local o Trilho Português dos Apalaches oferece já um conjunto vasto de sítios interpretados. A história geológica da Serra do Muradal é devidamente contada através dos geomonumentos identificados. O património arquitetónico das quarto aldeias por onde o percurso passa, isto é, Estreito, Sarnadas de S. Simão, Vilar Barroco e Orvalho merece um olhar atento. O trabalho verdadeiramente exemplar que o geógrafo Daniel Gonçalves tem feito para a instalação da Grande Rota permitiu identificar jazidas paleontológicas de importância internacional que estão agora a ser estudadas por especialistas, como interessantes assentamentos fortificados de altitude da Idade do Bronze e Romano que irão ser intervencionados por arqueólogos em breve, vias seculares que ligavam Oleiros ao mundo e que hoje estão limpas, a Linha de Defesa de Talhadas-Muradal, as ruínas dos seus fortes e baterias do tempo das Guerras Peninsulares e elementos de uma flora-relíquia perfeitamente adaptada às rochas quartzíticas e remanescente da Laurissilva estão a ser estudadas agora por botânicos.

Na zona podemos também encontrar um moinho de rodízio ainda a produzir farinha, artesãs que trabalham o linho, um miradouro fantástico sobre o Zêzere quando este corta a montanha a prumo, olhos d’água que convidam a um mergulho nas águas límpidas e piscícolas da Ribeira das Casas da Zebreira, a célebre aguardente de medronho e outros produtos locais de exceção, cumeadas serpenteantes de onde se obtêm paisagens vastas e grandiosas, … Numa serra de mistérios, onde abundam as lendas e tesouros de mouras encantadas, há muito por descobrir e cada visitante pode originar uma descoberta de acordo com os seus interesses.

“… A Grande Rota do Muradal-Pangeia não pode ser vista individualmente, mas como atração turística que complementa e enriquece a oferta em Oleiros…”

Passear – Qual a estimativa de impacto económico que a Grande Rota trará para a região?

Paulo Urbano – A Grande Rota do Muradal-Pangeia não pode ser vista individualmente, mas como atração turística que complementa e enriquece a oferta em Oleiros, o que necessariamente diversifica a sua atividade económica e reforça o seu tecido empresarial através do turismo. Por este motivo, é fundamental apostar na valorização dos recursos endógenos, investindo em produtos turísticos diferenciadores para a região Centro e para o país.

Complementando a oferta do território do Geopark Naturtejo reconhecido pela UNESCO, o Trilho Português dos Apalaches reforça os fatores de atração e convida o visitante a permanecer e a descobrir através de uma oferta de qualidade e mais abrangente para gostos exigentes e variados. Enquanto coordenadores do Trilho Internacional dos Apalaches em Portugal, pretendemos reforçar as relações históricas e comerciais com a América do Norte, utilizando a Grande Rota como marca promocional de Portugal junto dos consumidores de turismo nesta região do mundo. Ao fazermos parte de uma rede internacional que se estende no arco Europa-América do Norte aumentamos a visibilidade nos principais mercados emissores de turismo de natureza do mundo, casos da Alemanha e Holanda.

A Grande Rota do Muradal-Pangeia não se fica pelo percurso pedestre, faz parte de uma estratégia de desenvolvimento turístico mais alargada e de médio-longo prazo, onde associamos o estudo à conservação e valorização dos patrimónios, das comunidades de Oleiros, através da sua Rota das Montanhas.

“… Mais de 500 pedestrianistas serão recebidos como amigos pelas quatro aldeias da Serra do Muradal…”

Passear – O que se vai passar na inauguração da rota e o que podem esperar os caminhantes?

Paulo Urbano – Nos dias 28 e 29 de março, paralelamente à realização da sétima edição do Festival Gastronómico do Cabrito Estonado e do Maranho, coincidindo com as celebrações quaresmais e pascais em Oleiros, espera-se uma grande festa na Natureza! Mais de 500 pedestrianistas serão recebidos como amigos pelas quatro aldeias da Serra do Muradal que se unem para mostrar como bem se recebe neste concelho.

Acima de tudo, é um encontro de comunidades unidas pela montanha. A festa sobe a montanha em Sarnadas de S. Simão. Haverá boa comida e melhor bebida em Vilar Barroco. Os lusitanos andarão de novo pelo Muradal a proteger os seus tesouros e as “mouras” encantadas. Uma grande Ceia Lusitana espera por todos no centro de Orvalho. São muitas as surpresas preparadas desde o início desta viagem no Estreito. A montanha fará a sua magia e haverá longos momentos ao encontro da solidão grandiosa da paisagem, onde o desafio somos nós e a nossa condição física. Mas haverá sempre um ombro amigo para quem necessite. Portugueses e estrangeiros, mulheres e homens, jovens e menos jovens, desportistas da escalada e do BTT ou sedentários que gostam de petiscos, todos serão bem-vindos a esta grande festa de História Natural, feita de pormenores simples e generosos. Afinal, estamos em Oleiros!

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