Nova exposição do Centro Cultural de Cascais convida a conhecer obras de Francisco de Goya nunca vistas em Portugal

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Dez pinturas apresentadas pela primeira vez em Portugal, juntamente com as quatro emblemáticas séries de gravuras do mestre espanhol Francisco de Goya, poderão ser vistas na exposição “GOYA, TESTEMUNHO DO SEU TEMPO” de 23 de abril a 9 de julho de 2023, no Centro Cultural de Cascais. A mostra é uma iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus.

Francisco de Goya y Lucientes (Espanha, 1746 – 1828). O Dois de Maio de 1808 ou A Carga dos Mamelucos, 1814. Óleo sobre tela, 30×38 cm. Colecção Museo Goya Fundación Ibercaja.

Pela primeira vez, pinturas raramente vistas de Francisco de Goya (1746 – 1828) são exibidas em Portugal. Além destas obras inéditas no país, mostram-se ainda as incontornáveis séries de gravuras “Os Caprichos”, “A Tauromaquia”, “Os Desastres da Guerra” e “Os Disparates ou Provérbios”, do artista espanhol. Patente a partir de 23 de abril, em dois pisos do Centro Cultural de Cascais, a exposição “GOYA, TESTEMUNHO DO SEU TEMPO” é uma excelente oportunidade para contemplar a essência artística de Francisco de Goya, o mais importante artista espanhol do século XVIII, considerado o primeiro pintor da Arte Moderna pelo caráter inovador da sua obra e cujo legado inspirou decisivamente as correntes artísticas que surgiriam nos séculos seguintes, do Romantismo ao Surrealismo.

Francisco de Goya y Lucientes (Espanha, 1746 – 1828). Crianças à Luta por Castanhas, 1785-1786. Óleo sobre tela, 30×43,5 cm. Colecção Fundación de Santamarca y de San Ramón y San Antonio.

Através das obras selecionadas para esta exposição, as curadoras Maria Toral e Marisa Oropesa propõem um percurso pelos temas mais importantes da obra gráfica e pictórica de Francisco de Goya, para evidenciar como foi capaz de instaurar um novo conceito de arte: o artista como testemunha do seu tempo que, imbuído de um profundo sentido de liberdade, é capaz de expressar o seu liberalismo político, as suas opiniões sobre temas como a religião e as instituições, o seu fascínio pelas mulheres e a força emocional da família, do amor e da luxúria, o seu desagrado pela opressão intelectual e a sua aversão aos horrores da guerra, refletindo, enfim, o período de convulsões políticas e transformações sociais em que vive.

Francisco de Goya y Lucientes (Espanha, 1746 – 1828). Niños jugando a los toros, 1785-1786. Óleo sobre tela, 30×43,5 cm. Colecção Fundación de Santamarca y de San Ramón y San Antonio.

De entre as 10 pinturas expostas pela primeira vez em Portugal, destacam-se as seis que formam a série “Jogos Infantis”, produzidas entre 1775 e 1786, em que Goya retrata com naturalidade cenas da vida quotidiana e as brincadeiras de um grupo de crianças. As obras pertencem à Colecção da Fundación de Santamarca y de San Ramón y San Antonio, sediada em Madrid.

Nos detalhes destas obras, os visitantes poderão observar como Goya também imprimiu aqui uma aguda observação sobre a sociedade do seu tempo, chamando atenção para as amargas desigualdades sociais da época. Por exemplo, em “Crianças no Baloiço”, o pintor retrata algumas crianças vestidas com uniformes escolares impecáveis, que contrastam com as roupas esfarrapadas que outras crianças da mesma idade envergam ou na cena que se desenrola em “Crianças à Luta por Castanhas”, em que um homem atira, de uma janela, castanhas para as crianças que lutam entre si para conseguir apanhar alguma.

Francisco de Goya y Lucientes (Espanha, 1746 – 1828). Os Desastres da Guerra, nº. 3. Lo Mismo, 1810-1820. Água-forte, aquarela, ponta seca, cinzel e brunidor, 162×223 mm.

Destacam-se ainda duas obras que pertencem ao Museu Goya – Coleção Ibercaja, “Baile de Máscaras” (c. 1808-1820) e o estudo para “O Dois de Maio de 1808 ou A Carga dos Mamelucos” (1814), uma das suas obras-primas, hoje parte da Coleção do Museu do Prado, em Madrid. Os outros dois quadros são pinturas religiosas que Goya produziu na primeira fase da sua carreira, quando viveu e trabalhou em Zaragoza, sendo relevantes porque testemunham tanto os seus primeiros passos como a sua consolidação enquanto artista.

Durante muitos anos pintor oficial da Família Real Espanhola no reinado de Carlos IV, Goya foi também um cronista das questões sociais e das guerras do seu tempo, como evidenciam as suas espetaculares quatro séries de gravuras que o Centro Cultural de Cascais apresenta, três delas na totalidade. Produzidas a partir da década de 1790, um período especialmente turbulento na vida do artista em que uma doença não identificada o deixou surdo, as gravuras são também a resposta do artista à grande convulsão política e social a que assistiu durante a Guerra Peninsular, travada por Napoleão Bonaparte contra Espanha e Portugal.

Francisco de Goya y Lucientes (Espanha, 1746 – 1828). A Touromaquia, nº. 9. Un caballero español mata un toro después de haber perdido el caballo, 1815-1816. Água-forte e água-tinta, 249×356 mm.

A sequência é iniciada com “Os Caprichos”, de 1799, onde o artista satiriza os excessos da sociedade do seu tempo numa série de 80 gravuras sobre vícios e defeitos, religião, moralidade, superstição, bruxaria e a Inquisição, incluindo o famoso “O Sonho da Razão Produz Monstros”. Embora não tenham circulado muito tempo – Goya retirou-os de venda devido ao receio de se tornar ele próprio alvo da Inquisição – “Os Caprichos” tornaram-se a sua obra mais conhecida e influente.

O segundo conjunto de gravuras apresentado é “Os Desastres da Guerra”, uma série de 85 imagens feitas entre 1810 e 1820 que retratam as atrocidades e as consequências da guerra que testemunhou e compõem uma crítica reflexão social e política. No mesmo período, aos 70 anos, Goya produziu a terceira série, intitulada “A Tauromaquia”, sobre a história e a tradição das touradas em Espanha.

A exposição termina com a apresentação de treze gravuras que fazem parte de “Os Disparates ou Provérbios” (1815 – 1824), a última série produzida por Goya e que são as mais enigmáticas das suas composições. Em representações oníricas marcadas pela violência, pelo grotesco e pelas trevas, que ainda hoje geram as mais diferentes reações e interpretações, o artista aborda os mais diversos temas, do Carnaval à política. Certo é que a exploração do subconsciente nestas obras preconiza a arte dos expressionistas e surrealistas no século XX.

“GOYA, TESTEMUNHO DO SEU TEMPO” enfatiza o impacto de Goya em artistas que lhe sucederam, de Pablo Picasso, a Edouard Manet, Joan Miró e Salvador Dalí, e o seu papel de destaque na história da arte ocidental, onde é frequentemente citado como um grande mestre e o primeiro artista verdadeiramente moderno, tanto pela sua inventividade e o seu domínio das técnicas que empregou, como pelo seu posicionamento político e firme oposição à guerra e à ignorância.

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