Via Algarviana: De Alcoutim a Alte / Setor 1

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Um outro Algarve…

Quando decidimos fazer esta primeira parte da Via Algarviana o intuito era focar na Natureza, nos trilhos, na paz e no silêncio. Mas, acima de tudo isso, contactar com as pessoas que estão nestes terrenos de baixa densidade, sentir as suas aspirações, quais as principais dificuldades e desafios.
Sem dúvida que a natureza vale muito, mas são as pessoas que realmente importam e que podem fazer a diferença. O que sentimos é um envelhecimento grande e alguma solidão. Como se pode contrariar isso?

Textos: Vasco de Melo Gonçalves, Luísa Dias Mendes, Via Algarviana
Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

A Via Algarviana é um projeto já com alguns anos e que sempre tive intenção de percorrer. Já cruzei o Algarve pelo mar e pelas estradas, faltava-me fazê-lo a pé. Nesta edição abordamos a primeira parte que ligou Alcoutim a Alte.
O percurso está bem assinalado mas em todos os setores levei um equipamento de GPS com os tracks, descarregados do site da ViaAlgarviana, por uma questão de conforto.
A Primavera e o Outono devem ser as melhores épocas para fazer os trajetos, não só pela beleza das paisagens, mas também pelas temperaturas amenas e a intensidade de luz.

Setor 1 – Alcoutim a Balurcos – 24,20 km

Ficha do percurso
Ponto de partida: Cais de Alcoutim (N37º28’17.65” W7º28’16.53”) | Grau de dificuldade: IV – Difícil | Altitude mínima: 6 m | Altitude máxima: 206 m (Balurcos de Baixo) | Disponibilidade de água: Sim | Extensão: 24,20 km | Duração: 7 h (aprox.) | Subida acumulada: 840 m | Descida acumulada: 653 m | Mercearias locais: Sim | Alojamento: Balurcos de Baixo.


A nossa jornada até Alte começou em Alcoutim e recomendamos uma visita detalhada a esta terra de contrabandistas e não só. Sanlúcar ali mesmo em frente e o Guadiana a unir, revelam uma paisagem deveras única.
Quando era criança o meu avô, que vivia na Beira interior, contava-me as histórias de contrabandistas e que me fascinavam, eu na minha ingenuidade pensava que só ali os havia…
Alcoutim é uma povoação num diálogo permanente com o rio Guadiana e Sanlúcar. Com Espanha tem projetos de visitação comuns. O seu património arquitetónico é variado e, no deambular pelas ruas estreitas, vamos sendo surpreendidos por pormenores interessantes.
Alcoutim organiza todos os anos um Festival de Caminhadas onde a temática do Contrabando é abordada.
Existe o projeto de construção de uma ponte a ligar a Sanlúcar do Guadiana.

Por Onde Caminhámos
“A grande jornada da Via Algarviana começa junto ao cais de Alcoutim, com o belo Rio Guadiana como pano de fundo e a estátua erguida em honra ao contrabandista, reconhecendo a importância que o contrabando teve nesta zona. O percurso atravessa a vila e dirige-se para Norte. Interceta a PR3 ACT – Os Encantos de Alcoutim durante cerca de 300 m e diverge dela para depois se voltarem a encontrar por cerca de mais 300 m e divergirem para não mais se cruzar. Em Alcoutim vai intercetar ainda o setor 5 da GR15 – Grande Rota do Guadiana durante cerca de 3 km.
Este primeiro setor e primeiro dia de aventura e descoberta segue inicialmente ao longo do Rio Guadiana, por um caminho plano, a baixa altitude, durante o qual pode apreciar a beleza do vale por onde passa este grande curso de água. A paisagem é dominada especialmente por espaços rurais de sequeiro (alfarrobeiras, amendoeiras, figueiras, oliveiras), muitos deles ainda ativos.


Utilizando sempre o caminho principal, o percurso em breve se afasta do rio, orientando-se para Oeste até alcançar Cortes Pereiras. A entrada neste aglomerado faz-se por um caminho pouco utilizado, ladeado por antigos muros de pedra. Deste local, o caminhante segue para Norte, atravessando o povoamento, e posteriormente para Oeste/Noroeste, cruzando a estrada municipal (EM) 1054.
O percurso cruza-se em breve com os Menires do Lavajo e daí segue para Sudoeste, até ao lugar de Afonso Vicente. Aqui encontramos antigas habitações, algumas construídas em xisto e grauvaque, pequenas hortas tradicionais ladeadas por valados, muito típicos na região. Seguindo para Sul, o caminho cruza a estrada municipal (EM) 507, mantém-se no trilho principal e entra numa área de extensos povoamentos florestais, com relevo mais acentuado.
Após várias subidas e descidas em direção a Sul, o percurso chega ao Barranco do Alcoutenejo, que a jusante se une ao Barranco dos Ladrões e forma a Ribeira dos Cadavais. Daí, quase sempre em direção a Sudeste, o caminho segue até Corte Tabelião, atravessa a povoação e desce depois até ao Barranco dos Ladrões. Pelo itinerário principal, no sentido Sudeste, em breve surge no horizonte Corte da Seda. Atravessamos as ruas da povoação até à EN 122-1, de acesso a Alcoutim.
Após cruzar a estrada, o percurso continua para Sul, atravessando pequenos barrancos e linhas de água, até chegar ao Torneiro onde se cruza com mais uma pequena rota pedestre, a PR2 ACT – Ladeiras do Pontal, devidamente sinalizada. Daqui, ambos os percursos coincidem até chegar a Balurcos, onde termina este primeiro setor da Via Algarviana”. Texto: ViaAlgarviana

Dª Rosária Baptista Brisas do Guadiana

Pessoas e Alojamento
Brisas do Guadiana em Alcoutim
Em Alcoutim tive também a oportunidade de conversar com Dª Rosária Baptista, e definitivamente Alcoutim não seria a mesma terra sem ela.
Com formação de gestão social tirada em Faro trabalhou durante muitos anos como coordenadora da Segurança Social e a vida a acontecer fixou-a desde muito cedo (21 anos) em Alcoutim onde teve que prestar assistência a sua Mãe que com ela viveu nos últimos 10 anos da sua vida. Durante algum tempo foi possível conciliar esta vida de trabalho, família e ainda com a gestão do restaurante com mais fama na região.
Aqui acorria muita gente e o meu papel era um pouco como relações públicas e claro o objetivo recuperar a gastronomia tradicional, da fritada de porco ás favas, tal como a minha mãe fazia. Foram 12 anos e com muito sucesso mas também com muito trabalho e a vida familiar com filhos pequenos ressentia-se.
E como surge o projeto de recuperar casas para acolhimento de passeantes da Via Algarviana e não só?
Na sequência do fecho do restaurante e mudança de vida, não estava a ver-me a ficar em casa parada e decidi enveredar por esta atividade. O património já existia e entretanto teve que sofrer várias remodelações.
Sabe o que mais falta faz? É o convívio, a socialização, Alcoutim é pequeno toda a gente se conhece. Eu preciso de algo mais e puder conversar trocar experiências é fundamental. Uma porta aberta proporciona isso mesmo tal como estamos as duas a fazê-lo agora.

Com vários espaços recuperados, a família tem contribuído para manter património que é muito importante para não vermos apenas casas em ruínas, como noutros aldeias vizinhas onde as pessoas quase que desapareceram.

Transformar dinheiro em património é esse o legado que quero deixar aos filhos. A minha Mãe sempre dizia que – O dinheiro não consente faltas.

Projeto para o curto/médio prazo?
Como fiquei doente há dois anos e ainda estou a recuperar vou focar-me apenas neste espaço em que estamos, não me posso dispersar. Não está a ser fácil arranjar quem ajude na manutenção e limpeza pelo que tenho que me defender um pouco, mas quero continuar a receber, sem dúvida, é um gosto quando no final do dia venho oferecer um chá de ervinhas do campo e bolinhos aos caminhantes. Ver o ar de satisfação e apreciação por um gesto tão simples como esse.
Faço alguns trabalhos manuais e pinto a óleo e os filhos também estão sempre em contacto connosco.

A Proactivetur foi a empresa que nos programou a nossa deslocação à ViaAlgarviana.

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