Via Algarviana: Das Furnazinhas a Vaqueiros / Setor 3

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Textos: Vasco de Melo Gonçalves, Luísa Dias Mendes, Via Algarviana
Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

A Via Algarviana é um projeto já com alguns anos e que sempre tive intenção de percorrer. Já cruzei o Algarve pelo mar e pelas estradas, faltava-me fazê-lo a pé. Nesta edição abordamos a primeira parte que ligou Alcoutim a Alte.
O percurso está bem assinalado mas em todos os setores levei um equipamento de GPS com os tracks, descarregados do site da ViaAlgarviana, por uma questão de conforto.
A Primavera e o Outono devem ser as melhores épocas para fazer os trajetos, não só pela beleza das paisagens, mas também pelas temperaturas amenas e a intensidade de luz.

A Proactivetur foi a empresa que nos programou a nossa deslocação à ViaAlgarviana.

Ficha do percurso
Ponto de partida: No largo, onde se situa o Café, junto ao painel informativo da Via Algarviana (N37º21’47.01” W7º34’28.96”) | Grau de dificuldade: III – Algo difícil | Altitude mínima: 91 m | Altitude máxima: 320 m | Disponibilidade de água: No início e no fim | Extensão: 22,60 km | Duração: 6 h (aprox.) | Subida acumulada: 635 m | Descida acumulada: 592 m | Mercearias locais: No início e no fim | Alojamento: Vaqueiros.

Por Onde Caminhámos
Em Furnazinhas começa o 3º setor da Via Algarviana. Após atravessar a povoação rumo a Norte, o itinerário segue por uma paisagem com descampados, pastagens, extensos estevais e, pontualmente, pequenas hortas ainda em uso pelos habitantes locais. O relevo é acidentado e entrecortado por várias linhas de água de pequena dimensão. Aqui e ali, encontra pequenos povoamentos de pinhal bravo.
Vai cruzar-se com pequenos aglomerados habitacionais, alguns quase desabitados, como o caso de Monte Novo, junto à estrada municipal, um dos pontos mais elevados da zona (215 m). Segue-se o Monte das Preguiças, onde há uma mesa com bancos perto de uma pequena barragem. Aproveite para uma paragem: este é um excelente ponto para observar a região.
Em Malfrades, aprecie o casario com traça tradicional deste território serrano.
Daqui, o percurso segue em direção a Vaqueiros, passando por pequenas hortas de subsistência. O pinheiro manso é dominante. Aproveite o ponto alto onde está localizada a torre de vigia para incêndios para apreciar a vista panorâmica de 360° e fazer uma pequena paragem.
O trilho continua com algumas subidas e descidas até intercetar o PR8 ACT – Em busca do Vale Encantado, na EM 505. Os percursos convergem até ao final do setor, durante os últimos 3 km. Ao chegar à barragem de Vaqueiros, encontra o parque de merendas da Fonte da Parra, um local excelente para apreciar a vista e comer um pequeno snack, agora que já está perto do fim. Daqui, o caminho faz-se sempre com a barragem como pano de fundo e, em breve, avistará Vaqueiros.
Vaqueiros é a sede e a aldeia com mais habitantes da freguesia. Está construída sobre um povoado árabe, sendo mesmo a freguesia que apresenta o maior número de núcleos habitacionais em Alcoutim, cujos topónimos comprovam a existência de comunidades rurais na época árabe. Há também muitos vestígios arqueológicos romanos ligados à atividade mineira. Grande parte da população tem uma horta onde cultiva, ao longo do ano, o que lhe vai sendo necessário. Os terrenos acabam, assim, por ser o seu “supermercado”, suprimindo em parte a necessidade de se deslocar recorrentemente à cidade
”. Texto: ViaAlgarviana

Pessoas e Alojamento
Casas da Aldeia em Vaqueiros
Em plena Serra do Caldeirão, Vaqueiros tem tudo. Beleza natural, conforto e o bom gosto das Casas da Aldeia, mas sobretudo a excelente comida da Dª Rita (Mãe de Dª Olga) na Casa de Pasto Teixeira e a simpatia da governante Dª Fátima que fez as honras da casa quando chegámos.
Por aqui permanecemos duas noites e no Sábado de manhã conversámos com Dª Olga dona do espaço que, de Faro onde trabalha, ruma a Vaqueiros todos os fins de semana, porque tem mesmo muito gosto nisso e porque aqui tem a família.
No início da Via Algarviana não existia qualquer estrutura de apoio. Mesmo antes disso já apareciam caminhantes a perguntar onde podiam pernoitar. Chegaram a montar tendas em quintais e dirigiam-se ao café da minha mãe, era o local de socialização, para uma bebida e descanso.
Eram estrangeiros e portugueses que até no Inverno passavam e aqui faz bastante frio. Cheguei a dispensar o quarto do meu filho.

Perante uma necessidade que se revelava evidente surge a criação do alojamento.
Em 2014 decidimos criar o alojamento, primeiro uma casa com 4 camas e posteriormente alargamos ao que existe hoje.
Tenho muito gosto em receber e ter espaços bonitos e confortáveis. Fomos adquirindo algumas casas e restaurando-as. A aldeia fica também mais bonita e na medida do possível temos que ir reabilitando.
Houve excelentes anos com muito movimento até 2020, a partir de Março tudo ficou em suspenso. O que de alguma forma salvou a situação foi o facto de após dois meses de confinamento começaram a procurar-nos de empresas portuguesas e espanholas para alojarmos trabalhadores que se encontravam a trabalhar na zona, nomeadamente nas quintas de painéis solares a serem implementadas no Concelho de Alcoutim. Nessa fase foram poucos caminhantes e os que apareciam eram portugueses.
Depois assistimos a um crescimento grande no turismo de natureza no interior.

Sem esta rede e apoio aos caminhantes, as aldeias vão definhando. A Dª Olga já criou dois postos trabalho, já reabilitou espaços, um táxi para os transferes é mais emprego que se cria, o vendedor de pão e de fruta vende mais, enfim toda uma dinâmica que surge.
O que sente que faz falta ?
Por exemplo alguém que invista num pequeno restaurante, era uma ajuda preciosa e com certeza que teria clientes todo o ano. A minha mães já está com uma idade avançada e pouca saúde para cozinhar e neste momento é o único sitio onde se pode comer uma refeição.
As pessoas são pouco empreendedoras e faz falta gente jovem, todos ganhamos. Se pensarmos que estamos a 40 km de Vila Real de Santo António a 70 km de Faro, podemos aceder a tudo com alguma facilidade e mantermos a qualidade de vida que se pode ter numa aldeia assim.

As Casas de Aldeia estão abertas todo o ano.

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