Um dia em… Castelo Branco, uma cidade comprometida com o seu património

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Edifício da Câmara Municipal

Nesta edição, iniciamos a rubrica Um dia em… onde pretendemos divulgar e analisar as propostas das autarquias na promoção do seu Património. Começamos com Castelo Branco, uma cidade que me surpreendeu pela sua beleza e pela política de preservação e recuperação do património edificado.

Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Texto sobre património: C.M. de Castelo Branco

Celeiro da Ordem de Cristo

Há muitos anos que não visitava a cidade de Castelo Branco e, a curiosidade estava em saber como as cidades do interior lidam com o Turismo e com seu Património.
Consultei o site da autarquia e verifiquei que apresenta diversas propostas de visitação com diferentes temáticas das tradicionais colchas à Rota dos Museus passando pelo recente acervo de Manuel Gargaleiro e pelos espaços verdes e jardins. As propostas estão bem concebidas e documentadas o que facilita a programação de uma visita. Para além da informação no site, existe a possibilidade de descarregar uma aplicação que tem, por finalidade, ajudar a nossa visita no “terreno”. A aplicação é simples e pode ser utilizada offline.

Casa do Arco do Bispo

Nestas coisas de visitas a locais ou cidades, nada melhor do que passar pelo Posto de Turismo para um contacto mais pessoal e para troca de impressões. Em Castelo Branco, o posto está bem localizado, possui uma decoração apelativa e detém abundante informação sobre a região. Os funcionários são atenciosos e profissionais sempre disponíveis para prestar todo o tipo de informação. Só quando perguntei sobre um restaurante que fosse bom e exemplificativo da gastronomia da região, não me deram qualquer referência pois, estariam a privilegiar um estabelecimento em relação aos outros. É critério duvidoso e que beneficia os restaurantes de menor qualidade que estão referenciados na listagem da autarquia!
Nesta minha abordagem a Castelo Branco apostei mais no património cultural e edificado. Para o meu roteiro elegi o que resta do castelo, a ruas estreitas do centro histórico, os jardins emblemáticos, a memória judaica, o museu do Paço Episcopal, as famosas colchas e a figura incontornável do artista Manuel Cargaleiro. Fiquei ainda a conhecer quem foi a pessoa de Amato Lusitano… Ao optar por não quer ver tudo, permitiu-me estar com calma nos locais, conversar com as pessoas e sentir o pulsar da cidade!

Dr.João Rodrigues

Castelo e muralhas
Na zona mais antiga da cidade, o castelo e as suas muralhas marca de uma forma forte a paisagem e a configuração dos bairros antigos de ruas estreitas. Outrora, o pulsar da cidade passava por aqui e, hoje nota-se uma preocupação com a recuperação das casas antigas.
“Apesar de existirem vestígios datáveis da Pré e da Proto-história encontrados no Castelo de Castelo Branco, foi durante a Idade Média que se terá fundado a fortaleza templária.
Essa edificação terá ocorrido entre 1214 e 1230 e fechava um cerco de muralhas e torres. Admite-se que os seus limites tivessem sido mandados alargar por D. Dinis, mas, ao certo, sabe-se apenas que foi D. Afonso IV (1343) que mandou construir a segunda cintura de muralhas.
No recinto desta fortaleza, a designada alcáçova, situava-se a Igreja de Santa Maria do Castelo e o Palácio dos Alcaides.
Através das gravuras do Livro das Fortalezas, de Duarte d’Armas, podemos analisar Castelo Branco do séc. XVI como povoação-fortaleza, com ruas estreitas, apresentando edifícios com ornamentos de arquitetura manuelina.
Esta fortificação integrava um sistema defensivo mais amplo, erigido ao longo do vale do Rio Tejo”.

Portados Quinhentistas
Nas ruas estreitas e devidamente assinaladas as casas com Portados Quinhentistas permitem-nos um mergulhar na história através de uma arte simples e não muito requintada.
“Castelo Branco tem uma Zona Histórica repleta de belos Portados Quinhentistas e uma malha urbana que pouco se alterou.
O estudo das casas que ostentam estes Portados Quinhentistas revela tratar-se de uma arquitetura de parcos recursos que, em muitos casos, faz uso de uma decoração que se pode informalmente designar de “Manuelino pobre” ou “Manuelino popular”.
O seu carácter repetitivo permite à casa corrente contribuir para a definição da imagem da cidade, ocupando a quase totalidade do espaço urbano edificado na Zona Histórica. Para além disso, a casa corrente medieval é um excelente testemunho das necessidades e atividades sociais e profissionais do homem de então.
É nos lintéis dos portados e janelas que surgem pormenores decorativos com motivos em alto e baixo-relevo, registos da época e indicadores do ofício ou do desafogo económico e estatuto social do habitante”.

Solar dos Cavaleiros
Castelo Branco acolheu um grande artista português e do mundo nascido em Vila Velha de Rodão, Manuel Cargaleiro. Em dois espaços de exposição (muito bem organizados) temos acesso a parte da vida de um grande pintor que não renegou as suas origens simples e de grande ligação à terra e às suas gentes. O acesso ao museu e centro de exposição é pago.
“De fachada Barroca, o designado Solar dos Cavaleiros começou por ser o Recolhimento da Santa Maria Madalena, uma casa destinada a abrigar mulheres sós e com atribuladas estórias de vida. Localizado na então chamada Rua do Cavaleiro, a partir do séc. XIX é convertido no Asilo Distrital da Infância Desvalida.
Depois de várias alterações que comprometeram a arquitetura original do edifício, entre as quais a demolição integral da Capela, um grupo de cidadãos organizou-se, evitou a demolição integral do Solar e acabou por conseguir a recuperação do espaço ainda existente, no qual se destaca a entrada e a Roda.
Atualmente o Solar dos Cavaleiros acolhe o Museu Cargaleiro.
Em 1768, o Marquês de Pombal institui esta modalidade – a RODA – com o objetivo de diminuir os infanticídios, ficando adstritas a hospitais ou albergarias de cada cidade. Num mecanismo cilíndrico, composto por duas partes, uma côncava e outra convexa, que giravam sobre si mesmas, eram depositadas as crianças cujos pais não podiam ou não queriam com elas ficar”.

Jardim do Paço Episcopal
Um espaço emblemático de Castelo Branco e um jardim formal classificado de Monumento Nacional. A estatuária e o elemento água são fundamentais e caracterizam este espaço que convida à contemplação. O acesso é pago.

“O Jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco, classificado como Monumento Nacional, revela-se como um dos mais originais exemplares do Barroco em Portugal.
Jardim de recreio e reflexão, é dedicado a S. João Baptista, cuja estátua ocupa um lugar central na parede fundeira do patim principal.
Foi o Bispo da Guarda, D. João de Mendonça (1711-1736), que encomendou e provavelmente orientou as obras do Jardim.
Mais tarde, já no fim do séc. XVIII, o segundo bispo da Diocese de Castelo Branco, D. Vicente Ferrer da Rocha, fez ali obras de algum relevo.
Na sequência da Implantação da República, já em 1911, o Jardim passa para as mãos da Câmara Municipal, primeiro por arrendamento e, em 1919, com a compra que lhe confere titularidade definitiva sobre a propriedade.

O Jardim do Paço, em forma retangular, tem no patim principal cinco lagos, nos quais se destacam os característicos jogos de água.
No patamar intermédio destaca-se o Lago das Coroas e, em lados opostos, a Escadaria dos Reis e a Escadaria dos Apóstolos.
No patim superior, merece destaque a Escadaria de Moisés e o grande tanque a partir do qual se garantia o funcionamento dos repuxos (por pressão), bem como o abastecimento a todo o Jardim e às então designadas Hortas Ajardinadas (atual Parque da Cidade).
Rico de simbologia, todo o Jardim do Paço é pontuado por estatuária, com a água como elemento central – apresentada no espaço como o elemento purificador – num cenário que remete o observador para uma dualidade constante entre o terreno e o divino.
Os canteiros rematados por buxo esculpido e as laranjeiras plantadas por todo o jardim exalam aromas característicos que transformam este lugar particularmente aprazível na Primavera, muito embora o Jardim do Paço mude ao ritmo das Estações do Ano e em cada época tenha atrativos que o tornam ímpar e imperdível.

Azulejos do Jardim do Paço Episcopal
Os muros delimitadores do Jardim do Paço apresentam painéis de azulejo figurativo, monocromo, azul sobre fundo branco, representando várias vistas de Castelo Branco, da Antiga Quinta e Bosque, a Capela de São João e respetivo Cruzeiro”.

Paço Episcopal
Um edifício cheio de história e que hoje funciona como museu e centro de exposições. Possui uma coleção de pintura e colchas muito interessante apresentadas por um guia de exceção que fala do espaço e das obras com um conhecimento que advém dos mais de 30 anos passados entre as paredes da “sua casa”. Está a ser estudada a possibilidade de ter uma ligação ao Jardim do Paço Episcopal. O acesso ao museu é pago.

“O Paço Episcopal foi mandado construir pelo Bispo da Guarda, D. Nuno de Noronha, entre 1596 e 1598, como atesta uma inscrição que encima o portal da entrada no pátio. Sofreu uma profunda intervenção, já no século XVIII, levada a cabo pelo Bispo da Guarda D. João de Mendonça.
A partir de 1771, depois de Castelo Branco ter sido erigida em sede de Bispado, o edifício foi adotado como Paço de Residência dos Bispos de Castelo Branco (como o tinha sido para os da Guarda).
Durante o reinado eclesiástico de D. Vicente Ferrer da Rocha (1782-1814), procedeu-se a grandes transformações, nomeadamente no interior e na reconstrução do peristilo que se situa na banda Norte.
No século XX, de 1911 e 1946, serviu de Liceu Central (que ainda tomaria o nome de Nun’Álvares, por proposta do Dr. Augusto Sousa Tavares), também funcionou como Escola Normal e Escola Comercial e abriu as portas como Museu Francisco Tavares Proença Júnior em 1971.
Apresenta uma mostra do património arqueológico da Região, pintura de escolas portuguesas e tapeçarias da Flandres, bem como peças que evocam a História do Bispado e o Bordado de Castelo Branco, utilizado no traje, paramentaria e nas colchas”.

Casa da memória da presença judaica
Num espaço muito recente, a memória judaica é preservada. Ao visitar ficamos como uma noção mais rigorosa sobre os séculos negros da Igreja Católica e das perseguições impiedosas aos judeus. Podemos também a ficar a conhecer uma figura ímpar, o Dr. João Rodrigues (Amato Lusitano).
“A Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco é uma homenagem à História do Povo Judaico, à antiga Comunidade Judaica que viveu na cidade e contribuiu fortemente para o desenvolvimento comercial e económico da urbe e um tributo à Memória de todos os que foram perseguidos ou Mortos à mão da Inquisição.
O espaço Museológico está dividido em quatro espaços distintos:
Loja/Receção no Piso 0, onde é possível encontrar publicações diversas, produtos Kosher, informações sobre a cidade, os seus museus e monumentos.
No mesmo piso inicia-se o espaço museográfico sobre a fundação da Judiaria de Castelo Branco, sobre os rituais e as festividades Judaicas, a Inquisição ou os objetos de tortura.
Na transição dos dois pisos surge o Memorial das Vítimas Albicastrenses: São 329 nomes, 329 pessoas que foram perseguidas ou mortas por questões relacionadas com a sua crença religiosa.
O Piso 1 é um espaço inteiramente dedicado às figuras Judias Albicastrenses que se destacaram no seu tempo, quer em Portugal. quer além-fronteiras: Amato Lusitano, Afonso de Paiva, Elias de Montalto, Moisés de Montalto ou Manuel Joaquim Paiva constam nesta lista de Homens Notáveis, neste espaço que é apresentado como uma linha temporal sobre a presença Judaica em Portugal, até aos nossos dias.
Por último, o Piso 2 dispõe de uma zona de estudo/investigação, onde é possível a consulta a todo o tipo de material relativo ao estudo da temática Judaica, seja por consulta física (Biblioteca e Documentos), seja através de plataformas digitais”.

Cruzeiro de São João
No nosso caminho em direção à Sé e numa praça meia descaraterizada temos o Cruzeiro de São João.
“O Cruzeiro de S. João, classificado como Monumento Nacional, é um exemplo da arquitetura religiosa Manuelina, rico de detalhes e pormenores.
Talhado em granito, terá sido construído no século XVI e era um cruzeiro de caminho, que assinalava a existência, num local das imediações, de uma capela com invocação de S. João.
O Cruzeiro assenta numa base octogonal decorada com elementos vegetalistas, tem um fuste espiralado onde assenta um anel, decorado com uma corda e plantas estilizadas que serve de base à cruz, a qual por sua vez ostenta Cristo crucificado”.

Igreja de São Miguel / Sé Concatedral
Situada num largo cheio de movimento onde pontifica o edifício do conservatório, a igreja de São Miguel realça-se pela sua simplicidade e por arquitetura um tanto austera.
“A Igreja de São Miguel está erigida num local onde, desde 1213, existem notícias da existência de um templo, cuja propriedade é atribuída aos Templários.
Elevada a Sé Concatedral em1956, foi reedificada no século XVII, em estilo Renascentista. São visíveis os elementos das diferentes fases de construção: arco cruzeiro do século XVI, retábulos e painéis do século XVII e capela-mor e sacristia dos séculos XVIII-XIX.
Devido à escassez de meios para fazer uma obra monumental, foi D. Martim Afonso de Melo, Bispo da Guarda, que a reedificou no último quartel do século XVII.
Tem apenas uma nave que é separada da capela-mor por um belo arco Renascentista, no fecho do qual está o brasão de armas do Bispo D. Martim Afonso de Melo.
Ao segundo bispo da diocese de Castelo Branco, Frei Vicente Ferrer da Rocha (1782-1814), deve-se a construção (em estilo Barroco), dos dois corpos laterais, com os quais foi aumentado o templo: a Sacristia Grande e a Capela do Santíssimo Sacramento”.

Informações úteis
Onde dormir
Hotel Rainha D. Amélia, Arts & Leisure
Rua Santiago, Nº 15
6000-179 Castelo Branco

Onde comer
Retiro do Caçador
Rua Ruivo Godinho, Lote 39 – 1º Dt.
6000-275 Castelo Branco

Posto de Turismo
Avenida Nuno Álvares, 30
6000-083 Castelo Branco
272 330 339 / turismo.cmcb@mail.telepac.pt

Museu Cargaleiro
Rua dos Cavaleiros, Nº 23
6000-189 Castelo Branco
272 337 394 / http://www.fundacaomanuelcargaleiro.pt/ museucargaleiro.cb@mail.telepac.pt
Terça a Domingo 10h00-13h00 e das 14h00-18h00
Geral: 2€; Seniores (mais de 65): 1€; Estudantes: Entrada gratuita; Portadores do “Centro Card”:1,50€

Museu Francisco Tavares Proença Júnior
Largo Dr. José Dias Lopes
6000-462 Castelo Branco
272 344 277 / mftpj@ipmuseus.pt

Jardim do Espaço Episcopal
Rua Bartolomeu da Costa
6000 – 773 Castelo Branco
Meses de abril a setembro: 09h00-19h00; Meses de outubro a março 09h00-17h00 Geral: 2€; Séniores (+ 65): 1€; Grupo (+10): 1€; Estudantes e Crianças até aos 10 anos: Gratuito

Casa da memória da presença judaica
Rua das Olarias Nº 43
6000-176 Castelo Branco
272 323 033 http://www.casadamemoriajudaica.pt/ museu@casadamemoriajudaica.pt
Terça a Domingo 10h00-13h00 e das 14h00-18h00
Geral: 1€; Séniores (+65): 0.75€; Grupo (+15): 0.75€; Estudantes: Gratuito

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