Cheleiros, uma Aldeia de Portugal

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Uma aldeia no mundo do vinho

  • Aldeia de Portugal
  • Património edificado
  • Produção de vinho

Texto e Fotografias: Vasco de Melo Gonçalves / Viver com Gosto

Situada num vale e banhada pelo rio Lizandro a povoação de origem medieval Cheleiros, devido à sua situação geográfica tem, ao longo dos séculos, tido diferentes estados de desenvolvimento e importância. Já foi sede de concelho, já esteve ligada a Sintra sendo que hoje em dia é conhecida pelo seu centro histórico, ser a “casa” do produtor de vinhos Manzwine, fazer parte da Rota do Memorial do Convento e, mais recentemente, fazer parte da rede das Aldeias de Portugal.
Nesta edição abordamos Cheleiros através do percurso urbano Rota do Património e uma visita ao museu situado na loja da Manzwine.

Cheleiros é uma povoação com grande potencial. Hoje em dia, caminhar pelas ruas da aldeia, provoca um misto de tristeza e de esperança. A tristeza advém do grau de degradação de algumas das casas, a anarquia dos materiais utilizados e a falta de identidade da aldeia. A esperança surge através das obras de recuperação, em curso, que podemos ver em algumas das casas. Umas mantendo a traça tradicional outras sem qualquer ligação à arquitetura da região desta forma, perdemos o conceito de centro histórico e a ligação ao passado de uma aldeia que foi importante.
Sobre a integração na rede das Aldeias de Portugal, segundo Manuel Ferreira Alves (Presidente da União de Freguesias Igreja-Nova e Cheleiros), “…A integração de Cheleiros nesta rede das Aldeias de Portugal tem dois eixos representativos:

  • em primeiro lugar, o devido reconhecimento da história de Cheleiros cuja relevância se tem vindo a perder ao longo dos anos. Lembro que a primeira carta foral concedida a esta localidade data do século XII e que Cheleiros foi sede de concelho durante mais de 600 anos. Só este dado exemplifica bem o que representa Cheleiros para a nossa história.
  • em segundo lugar, a oportunidade para desenvolver um projeto turístico no eixo Mata Pequena-Cheleiros-Carvalhal onde pretendemos recuperar as tradições e divulgar o património natural, arquitetónico, gastronómico e histórico, aproveitando assim as valências deste território, assentes na ruralidade e nas tradições, e a sua grande proximidade aos 3 milhões de habitantes da Área Metropolitana de Lisboa”.
    Questionámos também o autarca sobre quais os desafios a curto e médio prazo para Cheleiros, “… Identificamos dois desafios principais: (I) a reabilitação do espaço público em Cheleiros, com vista a potenciar as atividades turísticas locais; (II) a dinamização da economia local com base na exposição e atratividade proporcionadas pela integração de Cheleiros na rede das Aldeias de Portugal. Neste ponto, além da alavancagem da autarquia, é importante o desenvolvimento de um conjunto de atividades económicas, de índole privado, relacionadas com o plano de valorização da Aldeia, como são exemplo atividades ligadas ao vinho ou ao pão de Carvalhal, atividades de divulgação do património natural envolvente do Rio Lizandro ou do Penedo do Lexim, ou atividades dedicadas a valorizar e divulgar o património arquitetónico e histórico de Cheleiro
    s”.

Por ironia é através de um estrangeiro e produtor de vinhos, André Manz, que podemos conhecer parte da história de Cheleiros. A Manzwine veio colocar a aldeia de Cheleiros no universo dos vinhos apostando em castas tradicionais “…No início dos anos 2000 quando foram encontradas as primeiras (últimas) cepas da uva Jampal, no meio de uma vinha abandonada, poucos eram os que a conheciam e menos ainda eram os que sabiam o seu nome correto. Uma demorada pesquisa levou à sua identificação, envolvendo especialistas e entidades especializadas…”.
Mas o projeto Manzwine é mais do que a produção de um bom vinho. Segundo os seus responsáveis, “…desde o início do projeto, mesmo quando ainda era apenas um sonho, sempre tivemos presente que a tradição e a história seriam a base de tudo. Durante as obras de recuperação, fomos encontrando artefactos que por si só iam contando a história daqueles espaços. Desde evidências do Neolítico até às ferramentas do século passado, passando pelo “Mistério do Lagar”. Fomos criando um local onde o passado se cruza com a ManzWine e a história se reconta…”.
Esse local é um pequeno museu, situado por cima da loja de vinhos, com uma grande qualidade expositiva e que nos faz viajar no tempo.
A partir de Cheleiros podemos também fazer um percurso pedestre circular (+/- 8 km) que nos leva a conhecer um pouco mais da região através do vale do Lizandro, as vinhas, Penedo do Lexim e a Aldeia da Mata Pequena. Na Primavera e no Outono o cenário é fabuloso!

Igreja Paroquial de Cheleiros / Igreja de Nossa Senhora do Reclamador
Igreja paroquial rural de primitiva construção gótica, apresenta vestígios de diferentes períodos construtivos. Integra-se no conjunto de edifícios religiosos da denominada região saloia, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero e por interior organizado segundo um esquema planimétrico básico, de que resulta uma planta poligonal, resultado da articulação escalonada num eixo longitudinal, de dois corpos retangulares, a nave única e a capela-mor. Portal gótico, em arco quebrado, em alfiz, sobre colunas de capitéis decorados e com pia de água benta esculpida incrustada. Arco triunfal em arco de asa de cesto preenchido com rosetas. Abside com abóbada de dois tramos, polinervada, estrelada, sobre mísulas vegetalistas e com bocetes vegetalistas e heráldicos. Nos arranques dos feixes de nervuras centrais da abóbada sobressaem duas cabeças coroadas esculpidas em baixo-relevo. Na nave os azulejos de padrão, polícromos, são aplicados em dois andares com barra intermédia, acentuando a sua horizontalidade. Pelas suas pequenas dimensões, Pedro Dias (1986) considera-a um dos exemplares típicos de igrejas paroquiais da segunda metade do reinado de D. Manuel I da região costeira. Fonte: DGPC

Pelourinho
Pelourinho quinhentista, sem remate, pelo que não pode ser alvo de classificação tipológica, com soco octogonal de três degraus e fuste octogonal, liso. Marco da arquitetura político-administrativa e judicial da vila, outrora sede de concelho, apresenta-se com grande simplicidade, restam alguns vestígios da sua forma original, sendo possível que as esferas que decoram os chanfros da base constituam uma reminiscência da decoração manuelina. Fonte: DGPC

Ponte antiga
Ponte de arco único, de volta perfeita, constituído a partir de silhares bem aparelhados, indiciadores de uma primeira construção romana, apresenta, todavia, um tabuleiro em cavalete, em rampa ascendente, guardas murárias em aparelho miúdo rebocado e pavimento, que seria inicialmente em pedra aparelhada, hoje de seixo rolado, indicadores de uma construção medieval. Não apresenta nem talha-mares, nem contrafortes. Fonte: DGPC

Capela do Espírito Santo / Ermida do Espírito Santo
Ermida rural de pequena dimensão e feição rústica, construída, provavelmente no séc. 16 e reconstruida no 18 (pós-terramoto), tendo recebido uma descuidada intervenção de reconstrução em finais do século 20, que lhe alterou a feição interna. Integra-se no conjunto de pequenas capelas da denominada região saloia, nomeadamente das Capelas do Espírito Santo, caracterizados por exterior de tratamento arquitetónico austero, por um esquema planimétrico interior básico, nave única, sacristia e capela-mor. Assim, apresenta uma planta poligonal, resultante da articulação axial de dois retângulos, de dois registos, correspondentes aos dois corpos principais, a nave única e a capela-mor, mais estreita, quase quadrangular, a que se adossam, lateralmente, do lado esquerdo, os corpos retangulares da sacristia e de um pequeno anexo, com porta independente de acesso ao exterior com a mesma orientação do portal principal. Fachadas rebocadas e caiadas a branco, muito sóbrias, percorridas, ou por soco e cunhais de cantaria, como é o caso, ou por faixa pintada. Fachadas principal e posterior em empena triangular encimadas por cruz pétrea, sendo a principal rasgada axialmente por portal, ou manuelino encimado por óculo, ou (como é o caso) de verga reta e moldura de alvenaria simples encimado por pequena janela retilínea servida de gradeamento. As fachadas laterais são rasgadas por vãos retilíneos com molduras simples de cantaria e rematadas por cornija saliente. Cobertura telhada a duas águas. Interiormente, apresentam nave única com cobertura tripartida (normalmente de madeira) e capela-mor, neste caso também com cobertura tripartida. Apresenta uma nave única, ostentando, no lado do Evangelho, um púlpito embutido, com mísula pétrea e guarda em balaustrada de ferro forjado, no lado da Epístola, pia de água benta e caixa de esmolas de madeira. Deste templo destaca-se o seu arco triunfal, de decoração manuelina, conjugando um arco pleno com um polilobado com decoração arquitetónica floral estilizada (rosetas), bastante semelhante à utilizada em alguns arcos de portais e fustes de pelourinhos manuelinos da região. Assim, apresenta uma estrutura de arco a pleno cento, em cuja moldura externa se inscrevem três conopiais diminutos com vértices rematados por florões e uma cruz que ultrapassam o arco, embebidos na parede O único elemento decorativo antropomórfico é a cabeça masculina coroada esculpida na pedra de fecho, não havendo qualquer justificação iconográfica ou documental para a identificar com o monarca. Fonte: DGPC

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